CPI da Covid interroga Mayra Pinheiro sobre cloroquina; lembre trajetória da médica cearense
Após os depoimentos de ex-membros do alto escalão do Governo, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid ouve, nesta terça-feira (25), a médica cearense Mayra Pinheiro.
Secretária de Gestão do Trabalho e Educação no Ministério da Saúde, a pediatra já presidiu o sindicato da categoria no Ceará, tentou cargo de senadora e, recentemente, virou alvo de uma ação por improbidade administrativa do Ministério Público Federal (MPF).
Depois dos ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Internacionais) e Eduardo Pazuello (Saúde), a presença de Mayra na CPI deve ser cercada pelo tema do suposto tratamento precoce contra a Covid-19.
A expectativa, portanto, é que Mayra seja questionada pelos senadores para que responda, afinal, por que insistiu que Unidades Básicas de Saúde adotassem como protocolo o tratamento precoce com drogas sem eficácia comprovada contra a doença.
“Mayra está numa situação muito difícil. Pazuello jogou batatas quentes pra ela em relação à cloroquina, dizendo que essa política seria assunto dela”, analisa o cientista político Cleyton Monte, professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
A médica foi escolhida por Pazuello, ainda ministro, como responsável por comandar missão de reconhecimento em Manaus em janeiro, quando o Amazonas vivia um colapso no sistema de saúde local.
Cerca de 24 horas após chegar à capital amazonense, Mayra sinalizou que o motivo pelo colapso na saúde local seria falta do tratamento precoce - composto por medicamentos sem eficácia contra a Covid, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina.
ATUAÇÃO EM MANAUS
Ainda em abril do ano passado, ela assinou um protocolo que previa o uso de medicamentos com ineficácia comprovada no tratamento contra a Covid-19. Mayra também é apontada como responsável pelo aplicativo TrateCov, que receitava esses remédios caso o usuário assinalasse sintomas leves da doença na plataforma.
A pediatra é, ainda, uma das seis pessoas que respondem a uma ação por improbidade administrativa movida pelo MPF no Amazonas por conta da ação dos governos estadual e federal durante a crise no sistema de saúde do Estado.
Além dela, são alvos da ação Eduardo Pazuello e o ex-secretário-executivo da pasta Élcio Franco, entre outros.
A cloroquina e a ivermectina, por exemplo, foram citadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como medicamentos que não funcionam no tratamento contra a doença. A entidade também informou que o uso pode causar efeitos adversos.
Em Manaus, cinco pessoas morreram após nebulização com cloroquina. No início de maio, ela confirmou aos procuradores que foi responsável por uma comitiva de médicos ao Amazonas.
PEDIDO AO STF
Após um pedido no Supremo Tribunal Federal (STF), Mayra teve concedido o direito de ficar em silêncio na CPI da Covid. O entendimento vale somente para fatos ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021.
Para a também cientista política Monalisa Torres, professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pesquisadora do Lepem, a presença da cearense na CPI pode servir como “bode espiatório”.
Ela defende a tese de que tanto Eduardo Pazuello quanto Ernesto Araújo tentaram blindar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) da culpa pelo alto número de mortos pela Covid no Brasil.
Diário do Nordeste
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